segunda-feira, 26 de outubro de 2009

TROVOADA











É trovoada que se aproxima
Sinto na minha alma…
O ar está quente, abafado,
cansado.
Demasiadas vozes
Ecoam pelos raios caídos
Em arvores centenárias.
Eu encosto-me á parede
Fria da racionalidade,
Escorrego por ela,
Deixo-me cair no chão
De um qualquer jardim
Esquecido, abandonado.
Nada mais floresce aqui.
Chove nos meus olhos,
O trovão não tarda
A chegar,
Abraço-me a mim mesma
Para entrar no abrigo
Que há em mim,
E aguardo
O estremecer
Do coração
Quando
O barulho ensurdecedor
Da consciência
Me disser
Que afinal
não vivi.

ana claudia albergaria

sábado, 10 de outubro de 2009




Caminhos dourados
Em tardes imortalizadas
Pelo grito melancólico
Da natureza
Que começa a partir…

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Portão da Memória










Estou ainda na fase de olhar os álbuns,
e os postais… onde as rosas permanecem,
apesar de algumas nunca me terem chegado ás mãos com vida
Estou ainda a organizar as memórias dentro de mim,
A arquiva-las com separadores de cetim,
Como se fosse possível esquecê-las
e mantê-las cuidadas,
ao mesmo tempo…
Estou a descer a escada do sótão lentamente…
a caminhar para a porta de saída do passado
e a tentar deixar entrar um pouco de ar fresco ,
uma porta entreaberta, ainda.
As estátuas do meu jardim
há muito tempo que perderam os rostos,
pela indolência dos corpos, pela falta de vida,
e pela acidez das lágrimas folhas que desceram por eles,
em Outonos berços de arvores despidas.
Ruíram no chão junto das folhas esquecidas.
Eu estou nas fotos… que posso fazer?
Eu ainda me lembro dos rostos das estátuas do meu jardim.
A chave do portão ainda está na minha mão…
Ele está entreaberto…
Eu espero junto á rosa que me resta
A coragem para descer totalmente a escada do sótão
Fechar o portão da memória
E seguir...
com a rosa pela mão.

Ana Cláudia Albergaria
(inspirado no poema de eugénio de andrade... Viagem)